sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

o veneno.




Aqui estamos nós
Olhe nos meus olhos e sinta o medo de não acreditar
As rosas estão sangrando, penduradas ao contrário
O espinho me corta o dedo e faz o sangue jorrar no cálice da vida que ainda está por vir
Acenda as velas
Me beba
Me suga
Morra
Por capítulos a história continua sendo escrita
Branco. Preto. Vermelho.
Até onde vai o fim?
Meus olhos não acompanham a direção dos seus olhos
Minha alma já pertence
Deitada no jardim consigo olhar o sol sorrindo para mim
Queimando...
O céu sorriu em mim
Presa na teia a qual me encontrava, sufocada por meus próprios delírios
Eu sorri de volta
Minhas veias não são a salvação
Não pertencem
Sufocam
Eu sou o veneno dentro de suas entranhas
E o céu sorriu em mim
Ao acordar de uma batalha
Eu sorri de volta
Até onde vai o fim?

(Eduarda Metzker)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

em fuga.




As coisas passam por mim e, simplesmente se vão. Deixo passar, relevo. Mas cansei. Abstrair é fundamental, mas nem sempre. É que ando cansada das coisas, posso até dizer que ando com preguiça de gente. É, falo de gente mesmo, do ser humano (desumano?). Preguiça de quem vive por aí se queixando de tudo, de quem acha que está sempre com a razão, de quem vive de aparências, de quem muito fala e pouco faz. Pior, de gente que enche a boca e bate no peito pra dizer quem é e acaba não sendo nada vezes nada. Então, me dei conta que algumas pessoas me cansam, definitivamente.
Me rendo. Resolvi dá tchau, adeus e até nunca mais. Não, não é a você, nem a fulaninho nem a ninguém. Mas é para aquela menina ingênua que insiste em morar em mim. Não a quero, não aceito, pode ir. Dizem que é dando que se recebe, que o que a gente planta, colhe. Por muito tempo pensei assim, não penso mais. Desisti de plantar em terra infértil. Tudo bem, há casos e casos, eu sei. Mas cansei. De viver como quem aguenta, como quem engole, como quem foge. E confesso, vivo em fuga.
Já sorri pra fugi da tristeza, já fugi de algumas alegrias, já bebi só para fugi da realidade. Já fugi de alguns sentimentos, de algumas verdades e de alguns desejos. Já fugi dos meus princípios e até da minha razão. Já fugi de alguém, já fugi de mim. Por medo, por fraqueza, covardia. Assumo, e não tenho a menor vergonha em dizer isso. Sou humana, cometo erros, loucuras e vez ou outra sou infantil. Mas chega uma hora que a gente cansa, e eu cansei de correr, de me esconder, de ser fugitiva.
Quero minha liberdade de ser de volta, quero o meu eu falando mais alto, quero minha opinião exposta e levada a sério. Quero existência de dentro para fora. E se eu quero, eu vou ter. E disso não abro mão. Não mais. Chega de ser movida por algo ou pelas vontades dos outros, chega de calar quando preciso falar. Agora, se preciso falar, eu falo, se o jeito for gritar, eu berro. Vai ser assim, e quer saber? Tô nem aí.
Me libero, me solto, me encaro. Se quiser, me enfrente, me aguente. Segure a onda. Do contrário, a-d-e-u-s, me supere. Escolhe, a opção é tua. E de uma coisa eu tenho certeza, isso não é mais problema meu. O tempo passou e eu descobri que não adianta eu ser a fofinha, a boazinha, a queridinha. Chega de inhas por aqui. Tem coisas que não cabem mais em mim, não combina, não bate, não rola. Me focalizo, primeiro eu, segundo eu, terceiro eu... O resto? Depois a gente ver. Sorry, mas hoje o meu nome também se chama intolerância. Prazer.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

goodbye "blue" sky.






Então você acorda, depois uma noite mal dormida. Daquelas em que você quer dormir, e não consegue, e quando consegue, já é tarde demais. Mas você acorda, assim, sem querer acordar. A janela ainda aberta, porque você não teve coragem de fechar na noite anterior. E você percebe que está chovendo, mas nem liga, porque pensa que é um sonho. Então você se vira para o outro lado tentando dormir de novo, mas o despertador toca, toca insistentemente. E você volta a olhar para a janela e percebe que não é sonho, está chovendo, chuva forte, e as gotas da chuva chegam até você... Então você arregala os olhos e bem na sua boca surge um sorriso, e depois dele vem uma gargalhada, você está feliz. Então você levanta e fica ali sentada, olhando a janela, sorrindo que nem boba. Depois você molha as mãos com a água da chuva, e lembra-se dos dias felizes, daqueles dias em que você era criança, e que todo mundo saia até a rua, e todo mundo corria na chuva, e você lembra que estava lá, e você se sente especial... Depois disso chega ele, aquele que não está ali com você pra ver como o dia esta lindo, e você imagina como seria bom se ele estivesse do teu lado, te abraçando forte e te beijando a bochecha. Então você levanta da cama, por que tem obrigações a cumprir, mas você esta decidida a ficar alegre, toma banho e veste aquela sua roupa de frio, aquela que há séculos esta guardada, esperando um dia como este. E você sai a caminho do trabalho, ou da escola, ou de qualquer outro lugar... E você olha o céu sem parar e canta “goodbye blue sky”. E depois presta atenção nas pessoas que caminham olhando o chão, e se sente sozinha por admirar o céu sozinha. Então você presta atenção nas dobrinhas das pernas das pessoas, é, você tem prestado atenção nisso ultimamente. Então você chega à avenida e o sol já esta chegando, forte, intenso... Quase te queimando, então você se lamenta por não estar em casa dormindo, e por estar com aquela roupa de frio, parecendo uma idiota. E você olha o céu procurando o dia nublado de um minuto atrás, mas tudo que você vê é um céu limpo, azul claro. E é nessa hora que você percebe; o dia apenas começou.
[Nini. C]

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

overdose.




I
nsetos, átomos, bolinhas transparentes, insetos... Girando, girando... Cada vez mais depressa ao redor da lâmpada fluorescente. E a musica toca sem parar a quase três horas. Um vulto passa pela janela aberta. Não é ninguém, não é ninguém... Isso não importa. Apenas o chão importa. Meu único e fiel companheiro, que me apara toda noite. E me vem um pensamento embaralhado, um pensamento atrapalhado, eu ligaria pra dizer. Dizer o que? “Oi, to sozinha em casa, não quer vir até aqui, beber um pouco e fazer sexo?”. Que se dane. O que importa é o chão, somos só nos dois agora, todas as noites. Dançando a mesma musica, o mesmo ritmo, o mesmo passo... Um pra frente, dois pra trás... Um pra frente, dois pra trás... E eu vivo sendo nos dois, ele e eu, juntos, para sempre. Não se preocupe. É a minha ultima tragada, prometo. É a ultima a mais de um mês. Não importa. Agüento mais uma, mais duas, mais três... Qual é? Só tem nos dois aqui, vai me passar sermão agora? Não vê que estou passando mal? Quero vomitar... Quero vomitar até sair às tripas, até sair à dor, até sair o coração. Quero vomitar, mas não consigo, quero pensar, mas não consigo, quero levantar, mas não consigo. Eu disse, o que importa é o chão. O chão e eu. E os átomos não param de circular, os inspiro, os expiro, os regurgito, de segundo em segundo. As bolinhas transparentes aumentam, elas estão por todo lado. Alguém aí vê bolhinhas transparentes? Eu vejo o tempo inteiro, mas já me acostumei a ignorá-las. Talvez eu esteja louca. Mas não importa. Apenas o chão importa. Somos só nos dois agora. E ele passa as mãos frias pelo meu rosto, segura as minhas mãos que soam frio. Ele me diz pra agüentar firme que vai ficar tudo bem. Ele me ama, eu sei. Ele sussurra algo que não consigo entender e depois passa a língua gelada por dentro do meu ouvido. Eu sorrio. Eu choro. Ele fica em silêncio. Ele sabe que estou passando mal. Estou intoxicada de sentimentos pequenos que fui aumentando e aumentando ao longo de todos esses anos. Estou intoxicada de remédios para dor, isso tudo se mistura, se mistura com as drogas e os remédios que fui tomando e tomando sem querer parar. Dói meu coração. E desesperada tento achar os braços do chão, que é pra ele me abraçar forte. Mas não os acho, não os acho. As bolinhas transparentes vão sumindo de uma a uma, espocando como bolhas de sabão. Os átomos vão parando de sair de mim e vão se espalhando pela minha alma. Os insetos ainda giram, só que agora lentamente, quase parando, olhando para mim curiosos. Mas isso não importa. Eu já disse. O que importa é o chão, o que importa é só nos dois. O chão e eu. Eu e o chão. O chão. Somente o chão.
[Nini C]

terça-feira, 4 de janeiro de 2011


'Existe uma grande diferença entre andar
para trás e tomar impulso'

Perder o chão é próprio da vida, como o movimento do mar,
como rio que precisa correr para não apodrecer.
Na gaveta da estante fica um colar de pérolas,
que um dia fez enfeite no pescoço da vó e muito antes
tinha casa em concha que bem antes de morar ali, foi grão de areia,
coisa pequena, minúscula, quase invisível.
Bastou uma explosão do mundo.
Nem tudo é tão rápido e fácil. Basta esperar.
[Vanessa Leonardi]

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

quero 2011.




Q
uero o novo neste ano que chega.
Tropeçar em passos, perder em dois caminhos.
Quero você, me quero também.
Dividir o colchão, roubar sorrisos.
Quero o amanhã no hoje.
Gritar quando dizer, dizer sem ofender.
Quero menos. Espaço, tempo, vazio.
Vida cheia de tudo, de nada.
Quero para mim, para ele ou ela.
Desejar chuva de estrelas em toda casa sem luz.
[Rizia Luiz]